Milhões de pessoas vivem hoje em localidades situadas a 3.048 metros acima do nível do mar, caracterizando uma grande altitude. Porém, uma longa exposição a estes lugares pode gerar a morte daquelas pessoas não aclimatadas, devido a pressão anormal de oxigênio presente (hipoxia) no ar ambiente. Por isso, a prática de exercícios físicos nas altas e até médias altitudes vem se tornando um desafio para aqueles que buscam uma nova aventura.
A densidade do ar diminui progressivamente ao elevar-se acima do nível do mar. Entretanto, as dificuldades fisiológicas encontradas nas grandes altitudes provém diretamente da menor pressão de oxigênio ambiente, a qual diminui de acordo com o aumento da altitude. O pO2 ambiente ao nível do mar é de aproximadamente 150 mmHg, enquanto a 3.048 m acima do nível marítimo este valor cai para 107 mmHg. No monte Everest (8.848 m), local mais alto do planeta Terra, o pO2 gira em torno de 42 mmHg, correspondendo a 30% do oxigênio disponível no nível do mar.
Aclimatação refere-se a ajustes fisiológicos do corpo em resposta à mudança no meio ambiente térmico, que podem variar ainda num mesmo local. Cada ajuste a uma maior elevação se processa progressivamente e a aclimatação plena leva tempo de acordo com a própria altitude. A exposição brusca a 4.300 m, por exemplo, acarreta uma redução de 32% na capacidade aeróbica, em comparação com os valores ao nível do mar. O aumento no impulso respiratório e no fluxo sanguíneo são as duas respostas fisiológicas imediatas mais significativas à exposição de grandes altitudes. A altitude, porém, não prejudica o sistema de energia anaeróbica a curto prazo. O armazenamento de glicogênio, vias de glicólise e ação das enzimas fosforilase e fosfofrutoqinase não são alterados, enquanto o acúmulo máximo de lactato é diminuído nas elevações extremas.
Dentre outras respostas fisiológicas à aclimatação, destaca-se o aumento da frequência sistólica do coração, que pode aumentar em até 50% em relação ao valor do nível do mar. A atividade da adrenalina aumenta progressivamente com o passar do tempo durante o repouso e o exercício com uma exposição à altitude, visto que em em apenas seis dias os níveis de noradrenalina alcançam valores máximos. O ar ambiente frio e seco de regiões montanhosas favorece a rápida evaporação da água corporal, causando desidratação.
Simultaneamente à estes ajuste já mencionados, ainda ocorrem outros de ação mais lenta quando há uma prolongada exposição às grandes altitudes. Há regulação do equilíbrio ácido-básico dos líquidos corporais e síntese de hemoglobinas e hemácias (devido a redução do pO2 arterial). Decorrente da produção dessas células sanguíneas, há um aumento na capacidade do sangue de carregar oxigênio, antecedente a uma redução inicial do volume plasmático. A perda de massa corporal é também um grande problema sofrido pelos atletas em grande altitudes. Fibras musculares podem sofrer uma atrofia de até 20%, a eficiência da absorção intestinal diminui e a taxa metabólica basal aumenta.
A aclimatação completa exige no mínimo duas semanas numa altura de 2.300 m e mesmo assim não compensa plenamente o estresse da altitude. Apesar da aclimatação, o volume máximo de O2 cai em cerca de 2% a cada 300 m acima de 1.500 m. As reduções relacionadas à altitude na função fisiológica anulam quaisquer efeitos benéficos da aclimatação. Isso explica em parte a incapacidade de conseguir os mesmo valores do VO2 máximo que vigoram ao nível do mar numa determinada altitude, até mesmo após a aclimatação.
Postado por Lucas Jezuino
Referências Bibliográficas:
Fisiologia do Exercício - (William McArdle, Frank Katch, Victor Katch)
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