A creatina é largamente
utilizada como auxilio ergogênico, com algumas evidências quanto ao seu efeito
positivo na massa magra, força/potência e resistência muscular porém esses
estudos não conseguiram identificar potenciais mecanismos bioquímicos que pudessem
explicar seu efeito na fadiga ou turnover de proteína
muscular. Outro possível efeito da creatina é a sua ação antioxidante e temos
duas possibilidades existem para explicar esse efeito: 1) Ação indireta como tampão energético, devido
ao aumento na concentração tecidual de fosfocreatina, que pode favorecer a
menor produção de intermediários da degradação da adenosina trifosfato (ATP),
principalmente no ciclo de degradação de purinas e; 2) Ação direta,
devido à presença de arginina em sua estrutura molecular.
Durante a realização de treinamento físico intenso ou na exigência
física máxima, há maior formação intramuscular de ânion radical superóxido,
peróxido de hidrogênio e radical hidroxil, dentre outros, resultando em lesões
oxidativas celulares e teciduais acima do normal nessas condições. Para
proteger contra essas lesões, as células possuem antioxidantes químicos e
enzimáticos, existindo evidências de que isso não é suficiente para as proteger
durante o exercício físico intenso.
A molécula de
ATP é a fonte imediata de energia para a contração muscular e os demais
processos dela dependentes. Contudo, sua concentração intramuscular é muito
baixa, fazendo com que vias alternativas de sua regeneração sejam imediatamente
ativadas devido ao seu consumo. Para tanto, é fornecido poder redutor de
carboidratos e lipídeos. Esse processo é lento, comparativamente à utilização
da fosfocreatina sendo muito importante na regeneração da ATP em atividades
físicas intensas e de curta duração. Com a intensificação da utilização de
fosfocreatina e de ATP pela fibra muscular durante esse tipo de exercício,
ocorre ativação simultânea do ciclo de degradação de purinas (ciclo de
Lowenstein), devido ao aumento na concentração intramuscular de adenosina
monofosfato (AMP). As principais conseqüências da ativação dessa via são a
produção paralela de amônia, hipoxantina, xantina, urato e de espécies reativas
de oxigênio.
Estudos
realizados com suplementação de creatina previamente ao exercício intenso
resultaram em queda, tanto na produção de amônia como na de hipoxantina.
Portanto, é possível que o aumento nos estoques intracelulares de creatina pelo
treinamento físico, ou seu consumo adicional previamente à realização do
exercício intenso, possa servir como antioxidante indireto. Ou seja, a menor
produção de hipoxantina em decorrência de tal procedimento, assim como devido à
redução paralela de seu catabolismo em xantina e urato, poderia resultar em
menor produção de espécies reativas de oxigênio na fibra muscular durante o
exercício físico.
A creatina é constituída pelos
aminoácidos glicina e arginina, que sofrem ação da enzima glicina
amidiltransferase, resultando em guanidi-noacetato e ornitina. Por sua vez, a
ornitina sofre ação da enzima guanidinoacetato metiltransferase, participando,
além disso, como substrato da enzima óxido nítrico sintase e resultando na
formação de óxido nítrico. Ressalta-se que o óxido nítrico é um radical livre
que modula o metabolismo, a contratilidade e o consumo de glicose no músculo
esquelético e participa do ciclo da uréia, além de poder reagir com O2- e gerar peroxinitrito (OONO-).
A arginina protege células
endoteliais contra lesões oxidativas causadas por lipoproteínas (LDL) oxidadas.
Dados adicionais mostram que a arginina pode neutralizar o O2-, levando à sugestão de que a creatina pode também exercer efeito
antioxidante direto, além de indireto.
Esses dados demonstram que a
creatina exerce efeito antioxidante claramente seletivo. Por fim, sua ação
antioxidante contra ABTS+ é
significativamente inferior à da glutationa reduzida, mas potencializa sua
ação. Pode-se concluir, que a ação antioxidante direta da creatina parece se
limitar a radicais livres ou a espécies reativas de oxigênio iônicas. Além
disso, como a creatina exerce efeito antioxidante inferior ao da glutationa
reduzida e demonstra efeito aditivo, quando na sua presença, é possível que
funcione como suporte aos antioxidantes mais potentes.
Essa função se torna relevante,
principalmente porque a creatina se encontra no sarcoplasma, podendo proteger
suas estruturas contra oxidação por espécies reativas de oxigênio durante o
exercício físico, como, por exemplo, proteínas importantes na regulação
metabólica, e atenuar o aparecimento da fadiga ou favorecer a recuperação após
o exercício. Quanto a isso, mesmo que existam resultados controversos,
antioxidantes químicos reduzem o ponto de fadiga em animais durante o exercício
físico intenso. Esses dados podem ser controversos em razão dos diferentes
tipos de animais estudados, de controle nutricional deficiente ou de tipo do
exercício praticado. Além disso, o estresse oxidativo devido ao aumento na
produção de oxidantes ou à falta de antioxidantes, aumenta a oxidação de
proteínas, assim como a sua degradação.
Em trabalhos recentemente
publicados foram demonstradas atenuações nos valores de quimioluminescência
urinária, um possível indicador de estresse oxidativo, em função da
suplementação de creatina associada ao treinamento de força/hipertrofia e a
corridas com longa duração. Os dados descritos nesses trabalhos
sugerem que esse efeito pode estar relacionado com ação direta e/ou indireta
exercida pela creatina suplementada. Destaca-se que sua função antioxidante
também não se mostrou totalmente eficiente, já que os valores obtidos na
quimioluminescência urinária não foram totalmente neutralizados.
Este tema é de relevante para a nutrição e a bioquímica do
exercício, uma vez que há poucas referências na literatura, mas com dados
promissores. Embora haja algumas restrições quanto ao seu consumo pela
Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte, a creatina não se encontra na
lista atual de substâncias proibidas pela World Anti-Doping Agengy (WADA).
Além disso, alguns estudos, com indivíduos saudáveis, não reportaram efeitos
colaterais nas funções renais, gastrointestinais e hepáticas com a suplementação
oral de creatina.
Referências:
1.
Bemben MG, Lamont HS.
Creatine supplementation and exercise performance: recent findings. Sports Med.
2005; 35(2):107-25.
2.
Revista de Nutrição
3.
http://www.scielo.br
Postado
por Camila Leão
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